sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Desmanchando...ainda!

Mais uma casa que monto e desmancho. Quando olhei a casa que vendi na ilha da magia vazia, pensei: que sina, monto uma casa, arrumo tudo direitinho, as linhas se perfilam, mas se ficou um fiapo solto... eu puxo e tudo se desfaz. Aqui na minha terra ia montar mais uma, enquanto isto não acontecia, morava com a minha filha, meu genro e minhas netinhas. Comprei o apartamento em frente ao deles, por algum tempo uma casa virou extensão da outra, era tão bom! Tão aconchegante! Para quem vinha de uma casa vazia e silenciosa, o barulho que eles faziam me embalava e me fazia sentir viva novamente; as batidinhas na minha porta de um par de mãozinhas insistentes tinha som dos anjos, muito bom abrir a porta e dar de cara com meus pequenos anjinhos. Mas eles mudaram para uma casa maior e desta vez a casa desmontada que vi foi a deles. Entrei devagar e estava tudo vazio, aquele vazio que conheço muito bem, o vazio da total falta de som, falta de risadas, de conversas altas; nunca mais aquele aconchego da presença tão perto.
Vaguei pelo apartamento vazio, ví as marcas dos quadros nas paredes limpas, não havia mais luz nem som, sentei no chão e... chorei, chorei a saudade sentida de não querer que isto acontecesse, foi tudo muito rápido para o meu tempo. O meu tempo é muito lento para certas coisas, e esta é uma. Voltei para meu apartamento e toquei a vida. Que vida? É ... Perdida no tempo e no espaço. Hoje é assim, cada filho na sua casa e eu... bem eu? Aqui! Cada vez mais encolhida, igual um caracol, levando tudo que possui nas costas. As lembranças eu guardo no baú. Ah! Me tornei uma expert em colar os caquinhos, então... fui aprender a fazer mosaico. E faço! Colo caquinho por caquinho e formo desenhos, alguns ficam bons, já outros...eu desmancho e faço de novo, não é isso que venho fazendo um tempão? Então... beijos.

domingo, 18 de setembro de 2011

Se esta rua fosse minha...

Bela querida, que estranho caminhar por caminhos antes percorridos. Que estranheza, que desconhecimento de caminhos tão familiares pouco tempo atrás; onde antes era um igapó agora são prédios; onde tinha a lojinha que se encontrava de tudo, do anzol ao velocípede, agora é uma construção moderna; a mercearia que comprava mantimentos não existe mais, supermercados modernos foram erguidos; até pet shop tem, aos montes... e lojas de eletrodomésticos!!! Nossa têm muitas, sempre anunciadas na tv aos berros e concessionárias de carro? Muitas! As pessoas enlouquecidas comprando, cada qual com o carro mais equipado e da marca mais famosa, tantos air bags que penso numa batida, além de proteger, vai sufocar o motorista! E o canal, pois é, o tal canal de tantas lutas políticas, saiu do papel, desenhou a cidade de outra forma - ainda nem sei andar direito por ele - mas que ficou bonito, ah! isso ficou! Deu outra cara e dinâmica na cidade, muitas coisas foram construídas e feitas em função dele. A noite efervesceu, muitas casas noturnas, bares, restaurantes bons, antes tínhamos apenas o restaurante do aeroporto, agora podemos comer até um japonês decente. As pessoas... bem as pessoas! Muita gente nova, que aqui chegou e ficou, como eu cheguei um dia, muitos jovens que estudavam fora e voltaram, como meus filhos; jornais? Vários! Haja notícias para tantos. Casas lindas e bem cuidadas foram erguidas, ruas pavimentadas e por elas ando e não me encontro mais, são ruas novas, não as reconheço. Puta saudosismo, banzo de domingo amiga! As pessoas que antes convivia, agora quando me encontram: "Nossa!!! Você por aqui? Quanto tempo! Está passeando? Não estou morando? O passinho para trás é inevitável!! De início não entendi o "passinho para trás", depois compreendi. Passear é uma coisa...mas morar? Bem morar significa o quê? Ter que conviver novamente? E o ex que continuamos frequentando a casa, como fica? Melhor não ter muita aproximação!!! " Ah! Então bem vinda, se precisar de alguma coisa a nossa casa continua aberta, sabe que gostamos muito de você viu???? " Bela, pela primeira vez na vida estava sendo vítima de PRECONCEITO! É preconceito de descasada! Pode? Sinto na pele o que é esta praga chamada preconceito, é f... Agora compreendo melhor os negros, índios, homossexuais, deficientes físicos, e outras minorias, mas não sabia que existia a discriminação a mulher descasada. Existe sim! Daí junta com o meu patológico sem jeito de fazer amizades, dá esta porcaria de solidão: amigas casadas vão conversar o que comigo? Até tentaram, algumas, mataram a curiosidade e se foram; E os maridos? Sabe que alguns até tiraram gracinhas comigo? E olha que são amigos do meu ex e frequentam a sua casa, mas comer a ex do amigo deve ser uma tara! Vai saber! Tolos! Outras amigas descasadas até têm, alias, bastante. Mas a vibe delas não é a minha: não gosto de sair a noite, não bebo, não quero me envolver com ninguém, eu quero sossego, curtir meus filhos e netos, aos 58 anos quero meus livros e nada mais! Beijos.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Re (encontros)...

Eis-me aqui onde tudo começou. Novamente o verde escandaloso e inconfundível dessa terra em que me fiz gente grande; amei, casei, fiz família, procriei, eduquei minhas crias, fui feliz, fui infeliz, ajudei a construir uma vida e uma casa, criei raízes profundas, fiz amigos, deixei de amar, descasei e fui embora para uma terra que não era minha. Minha terra é aqui! Minha terra tem calor senegalês, poeira, estrelas abundantes no céu, um rio fraquinho, não tem mar, gente da melhor espécie, o riso escancarado da infância feliz dos meus filhos, mangueiras nas ruas que dão mangas aos montes, gente que se conhece de muito conversando nos supermercados, politica e políticos, chuva derramada de balde, o rastro da minha felicidade! Agora os caminhos são outros, o verde é o mesmo, mas a cidade cresceu, tornou-se bonita, quando aqui cheguei tão jovem era quase uma aldeia, uma cidadezinha tão pequena, que até uma batida de carro poderia acontecer entre irmãos, e aconteceu de verdade! Hoje, não moro mais na casa da infância dos meus filhos, os amigos que fiz ao longo de 24 anos migraram. Outros, poucos, olha ai a minha "noia" se manifestando, estou fazendo, mas estou cercada de afetos aconchegantes, sabe de quem? Daquelas crianças que frequentavam a minha casa, que eu carregava, para cima e para baixo- sempre gostei de andar com muita criança - tornaram-se homens e mulheres, alguns com filhos e família próprias, o afeto deles me aquece, enternece, me revigora! Quando olho para cada um deles absorvo despudoradamente a energia e vitalidade que deles emana, e isso me faz feliz! A estrada de luz que me trouxe de volta têm nomes e sobrenomes: três netos! Sim, tenho mais uma netinha, uma luz com dois olhos verdes irrequieto e perguntadores. Eu perto dos meus três netos, minhas filhas, meu filho, meus genros, e de brinde: a doçura da irmã do meu neto, a eloquência do irmão dos meus filhos, o pequeno L..., os filhos dos sobrinhos, dos filhos dos amigos de infância dos meus filhos, vou, pouco a pouco, pavimentando o caminho de volta. Falta só o meu outro filho voltar, então terei a família que ajudei a criar toda junta novamente. Quem sabe não mando construir a tal mesa grande! Gente para encher agora tem! É isso! Vou ter a minha tão sonhada mesa grande, com filhos, filhas, genros, noras, netos e netas e quem mais chegar, sim! Porque não? Beijos.

sábado, 3 de setembro de 2011

Ainda desfiando...

Deixando situações diversas de lado e voltando ao nosso triturante cotidiano, ainda, lá na Ilha da Magia, com todas as suas bruxas a solta e rondando sempre cada um de nós que ousa habitar no espaço que outrora pertenceu, ou pertence, vai saber?! somente a elas; as vidas, de meu filho, da minha filha e a minha, estavam numa linha bem esticada, tão estendida que se a tocássemos com a ponta da unha ela com certeza emitiria um som, um lamento, um pedido de socorro, sei lá! Com a minha saúde emocional em restabelecimento, dava conta da casa e da vida, minha e deles, no automático, era como se um flagelo habitasse dentro de mim, sabia que tinha que fazer mais, mas o que dava era aquilo que fazia, e eles me cobravam: "Mãe reage, faz alguma coisa, sai, vai passear, faz amigos..." Não dava! Não era assim que tinha planejado, estava tudo errado. Sentia a vida me escapando, igualzinha as areias da Joaquina que pegava aos punhados e deixava lentamente escorrer entre os dedos. Mas há dias ruins e outros piores e alguns bons, então me agarrava desesperadamente para que os bons durasse bastante. No meio desse desalento todo, eis que meu outro filho retorna da Itália, foi um dia muito bom! Uma coisa nova acontecendo, foi bom para mim e para os irmãos, já não estávamos tão sós; muitas novidades, muitas histórias, um enfoque escolar diferente, uma nova língua aprendida, um mundo novo a ser conversado. Com a chegada do irmão a minha filha - que havia acabado a faculdade - resolveu que era a vez dela partir. E partiu! Voltou para junto do pai, lá no norte. A vontade de começar uma vida profissional falou mais alto e mais uma vez, a providencial ajuda do pai se fez necessária. E lá foi ela! Fiquei sem minha pequena! Que falta me fez! Ficamos os três, meus meninos e eu, para continuar a nossa rotina, eles estudando e eu... bem... eu? Ali. Em casa, supermercado, fazendo a nossa comida, limpando a casa, a faxineira só vinha uma vez na semana. Que vidinha de merda! Que raiva dessa minha estúpida dificuldade de fazer novos amigos. Que raiva dessa fobia social, que desenvolvi pós divórcio! Fico tensa só em pensar de ir a uma festa! Quando comecei a conversar com estranhos no supermercado, puxando "papo" com atendentes de farmácia, ví que algo muito estranho estava acontecendo e tinha que tomar uma providência. E tomei! Quem ia fazer o caminho de volta, agora, era eu! E fiz! Deixei meus filhos terminando as faculdades, devidamente instalados, vendi minha casa. E voltei! Aqui estou euzinha! E uma nova linha tinha que ser tecida. Com qual fio? Estou, ainda, descobrindo! Cada retalho é uma linha diferente e especial. Beijos.