quinta-feira, 21 de junho de 2012

O Velho do Picolé!

Num domingo nem tão distante assim, estava tomando café na varanda do apartamento, nada glamuroso, uma caneca com café e só, cheguei no parapeito, gosto de ficar olhando aqui de cima, as casas, os carros que passam, as pessoas andando na rua, diante deste cenário meu pensamento corre, fico imaginando onde cada pessoa que vejo daqui de cima está indo! Passear? Visitar alguém? E uma dessas pessoas me chamou atenção em especial: era um velho empurrando um carrinho de picolés, um carrinho bem antiguinho, dava para ver que ele - o velho - devia ter uns 75 anos; passos lentos, cabeleira branquinha, pele tostada do sol, ou será que era esta a sua cor de nascença? Fiquei hipnotizada por aquela figura! Empurrava o carrinho lentamente, nos pés uma sandália havaiana, calça de tergal com a bainha dobrada, talvez para não entrar por baixo do calcanhar, camiseta dessas de propaganda eleitoral, na mão ele apertava, cadenciadamente,uma espécie de buzina, uma corneta com uma bola preta onde ele apertava e fazia fon...fon... e com este som chamava a clientela, mas naquele domingo tão quente, ninguém saia de casa para comprar os picolés dele e ele ia de uma rua a outra, devagarinho, devagarinho e fon...fon... e nada! Em uma das ruas encontraram-se o velho do picolé e o homem da tapioca, é tem também o homem da tapioca! Ele grita:"Olha a tapioca!" Mas de uma forma melodiosa que só ele faz! E tapioca as pessoas saem de casa para comprar. Porque picolé não!? Cadê as crianças? Não gostam mais de picolé de carrinho e que faz fon..fon..? Que pena dele! Depois de algum tempo resolvi ir até a casa da minha filha, que para chegar tem que atravessar em diagonal a cidade toda, almocei, conversamos depois de umas 3 horas, resolvi ir embora, peguei o canal. Pois é, quem eu avisto de longe? Ele mesmo. O velho do picolé! Parei. Precisava conversar com aquele senhor. Saber dele. Em um domingo tão quente e tão tarde ele ainda estava empurrando aquele carrinho? Assim o fiz, pedi um picolé, daqueles que quando está terminando vira gelo? Adoro! Conversamos um monte! E pude constatar que a realidade é bem assim como a gente imagina mesmo; é claro que ele não fazia isto porque ele adora empurrar um carrinho num sol escaldante num domingo para ganhar 50,00 reais, que é o que o carrinho dele comporta! Nem pensei que seria o contrário! Aquele senhor, suarento, e com 78 anos precisava muito fazer isto, pena que tinha vendido tão pouco, tava difícil naquele domingo, mas ele estava com esperanças de vender mais na praça, têm mais crianças! "Se tivesse vendido tudo iria para casa?" "Ah...claro dona!" "Então vá, aproveite o resto do domingo!"

domingo, 10 de junho de 2012

Confesso que vivi...

Que Pablo Neruda me perdoe por me apossar despudoradamente das suas palavras, mas é assim mesmo, existe sempre alguém que escreve ou escreveu algo que parece com o que estamos pensando ou sentindo. E foi assim que me senti, algumas horas atrás. Hoje é aniversário de uma das minhas filhas, a minha pequena! Olhando para ela hoje, tão preocupada porque estava fazendo 29 anos. 29 anos!!! Tão jovem, tão cheia de sonhos, recém casada, uma vida sendo construída, seu sorriso lindo transbordando de ansiedade pelo próximo passo que a vida há de lhe cobrar, me deu vontade de colocá-la em meu colo, como fazia quando era criança para lhe fazer aqueles penteados elaborados com fitas, que hoje olhando as fotos ela odeia, mas que na época adorava, e lhe dizer para não ter pressa, você já fez um monte! E ainda fará muito mais! O que for muito difícil de fazer sozinha- mesmo que seu marido a ajude- as vezes precisamos mesmo é da ajuda da mãe, estou aqui! Chama que eu vou! E hoje minha pequena, no seu café da manhã, você acabou me dando um grande presente! Quase tudo que me move estava ali: você, seu marido, seu irmão, a namorada dele, sua irmã, o marido dela e meus quatro netos, e em algum momento olhei cada um de vocês, é claro que lembrei de quando eram crianças, é inevitável, mas sobretudo finquei o olhar no que estava vendo: que lindo! Eu criei parte disto! E é o que me interessa e me move neste mundo ( até já falei sobre isto, sou repetitiva mesmo e dai?). Mas algumas nuances indeléveis estavam diferente, não com você, com seus irmãos, na verdade sua irmã e seu irmão que está longe e dois de meus netos, nada grave, apenas diferente. Sua irmã acabou de parir ainda está naquela acomodação de uma nova filha, tão frágil, tão necessitada de sua atenção completa, é uma fase difícil, de pouco dormir, pouco tempo para si, passa logo, mas gostaria de poder ajudá-la mais! Seu irmão que não estava conosco, algo me diz, que está surfando uma onda bem alta e levou um caldo, mas como bom surfista que é, bota logo a cabeça de fora e pega uma onda mais mansa, rema e começa de novo, ele sempre consegue! Mas senti sua falta, gostaria que ele estivesse ali com a gente. Meu neto está naquela fase de transição, nem criança e nem adulto, um enfado, para ele naturalmente e minha neta mais velha com suas reflexões e olhares curiosos se tornando uma garotinha e acentuando sua vaidade de tão bom gosto! Obrigada filha por este presente de hoje. Ah...e tem a Manu! Mas ai é outra história, a Manu é um capítulo a parte, a gente ainda fala dela outro dia! Beijos

Parece que foi ontem...

Bela querida, quando aqui cheguei, nos idos de 1978, a Aldeia ... era uma aldeia. Tudo muito precário, muitas dificuldades, muitos jovens começando uma vida nova, inclusive nós, uma cidadezinha pequena com tudo que uma cidadezinha tem que ter e o que não tem, e uma das coisas que mais me chamou a atenção naquela época era a incipiente tentativa de ter uma televisão - não o aparelho - novelas acompanhávamos com dois ou três dias de gravadas, os noticiários de fora também com atraso. Imagina numa época em que uma ligação interurbana era feita por intermédio de uma telefonista, que muitas vezes dava para "sentir" sua presença, digamos que para conferir se a ligação realmente tinha sido completada! Pois é era assim! A programação local? Bem esta se limitava ao noticiário local, cujo ponto alto era a piscadela de olho dada pelo seu apresentador ao final e as entrevistas, reportagens, coberturas de eventos sociais - baile Vermelho e Preto por exemplo - feitas por um único "repórter, iluminador e faz tudo" que fazia perguntas tão esdruxulas que viravam piadas no dia seguinte; mas louve-se sua boa vontade, afinal ele fazia tudo sozinho, as vezes arrumava um rapazinho para segurar os fios e as luzes, enfim foi um pioneiro e a eles deve-se sempre um louvor. E os comerciais? Bem este mesmo "repórter" os fazia. Tinha um que era assim: um cartaz fazendo propaganda de um frigorífico, acho que era frigorífico, alguém segurava- dava para ver as mãos de quem estava segurando- e o repórter lia o que estava ali escrito. Mas, sabe amiga Bela, todas estas lembranças é só para poder falar, você sabe o quanto faço rodeios até contar que interessa. Sabe qual é, inegavelmente, a melhor campanha publicitária local? A da empresa de meu ex-marido! Que campanha de modernização de uma marca local! Bem feita, bem dirigida, público bem definido, veiculação adequada e sobretudo a escolha do publicitário, moço muito eficiente; dá a entender que captou direitinho, o que o cliente precisava: mostrar que uma empresa local, com crescimento eficiente ao longo dos anos, tinha mais é que mostrar seus produtos de forma bonita, moderna e sem gritos. Na verdade além do publicitário, não posso deixar de dizer que ele (o ex) sempre procurou inovar; fico feliz por ele, por meus filhos e netos, aliás partiu do meu neto as seguintes palavras quando viu o comercial de um lançamento com uma famosa muito bonita: "Vó isto é do vô? Que comercial manero é o mais bonito daqui!" E olha que ele tem só 12 anos! Bonita toda a campanha! O patrocínio do jornal local me levou para a cartolina segura com as mãos de alguns anos atrás. Parabéns ex, parabéns publicitário! Algo me diz que vêm muito mais coisas por ai. Tomara! Adoro contar uma história! Beijos

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Maria Valentina & cia

Está difícil recomeçar a escrever, parou...nada mais vem, as palavras ficam encolhidas, as frases curtas os pensamentos preguiçosos, disformes, fazem curvas e mais curvas...e vamos ficando distantes...distantes... um monte de reticências. Mas na verdade tenho muito que falar, sem nenhuma ordem, tudo desconexo,tudo emaranhado, um novelo cheio de nós e linhas finas, linhas daquelas bem vagabundas compradas mesmo nos armarinhos da vida, de beira de mercado que arrebentam no primeiro esticão; as de seda estão no meio, tudo junto e misturado, mas juro que vou colocá-las no seu devido lugar aos pouquinhos com muita calma. No meio deste emaranhado de linhas e idéias eis que surge ELA: Maria Valentina! O que foi aquela visão do meu genro com um pacotinho nos braços! Num corredor longo, o mais longo que já percorri, e lá estava ela em seu colo, aconchegada, protegida nos braços do pai, ele agarrado a ela e ela molinha adorando aquele colo que terá para sempre. Penso que este aconchego de alguma forma,ela, sempre vai sentir, em algum lugar no seu inconsciente o calor daquele abraço primeiro ficará para sempre. Quando peguei aquela coisica quentinha, frágil nos meus braços pensei que queria ficar com ela assim para toda vida, nunca mais devolver ao pai, não dá para descrever esta emoção sem cair no lugar comum do amor incondicional, porque é isto mesmo, e tome-lhe lugar comum, amor para toda vida... e olhe que já senti esta mesma emoção por três vezes, eu quero é mais! Maria Valentina chegou! E nem parece joelho! Bem vinda a este mundo, e fique tranquila ele nem é tão ruim assim, tem muita coisa boa, se não tiver, nós, "&cia" o faremos para você!