sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Como se fosse amanhã...

Numa véspera de natal, estava grávida, na boca de parir...E naquele ano os festejos não seriam na nossa casa, por motivos óbvios! E para deixar tudo organizado para o pai e as outras crianças, resolvi ir ao mercado, mercado mesmo! O da Cadeia Velha, quando estacionei a minha velha Belina, desci, peguei minha sacola de naylon xadrez de azul e a carteira de dinheiro e...a bolsa estourou, não a xadrez de naylon a da criança. Meu Deus cadê o dr. Labib? Preciso dele agora, pensei!Entrei novamente no carro, já sentindo as contrações, e fui para o Santa Juliana, claro que o santo Labib estava lá, trazendo mais uma criança ao mundo! E num redomoinho de dor e emoção pari o meu melhor presente de natal! Deus para compensar todos os natais que não tive em minha vida resolveu me dar um presente inexplicavelmente mágico: Uma boneca de verdade! Linda! Com a carinha mais serena que já vi! E amanhã ela faz 27 anos. Pois é, como 27 anos passam assim...tão de repente?! Não pode! Quero de volta todos aqueles sorrisos sem dentes, os primeiro cambaleantes passinhos, a primeira vez que me chamou de mamãe, o primeiro abraço dizendo que me amava, ver o primeiro dentinho caindo, o primeiro aniversário, a primeira vez da escolinha, as primeiras letrinhas, a primeira cartinha. Quero tudo isto de volta! Tempo...Tempo inexorável, que não volta nem com um pedido tão emocionado e com apelo tão profundo de uma mãe com saudades. Passou, foi-se! Mas as lembranças essas ficam passando...passando num filme sem roteiro, alguma trilha sonora e tendo como diretor, ele o sr. Tempo! Amanhã, 24-12, meu melhor presente faz 27 anos; tornou-se uma mulher, mãe de duas filhas, esperando, provavelmente, outra, tornar-se-a mãe de três filhas, continua com a expressão serena, meiga, um pouco contida nas suas emoções, é capaz de chorar mais de raiva do que de emoção pura, e no entanto é muito carinhosa, dengosa, acho que a emoção contida Freud explica, lembram da cepa da qual a avó dela foi feita? Minha filha aos 27 anos está escrevendo sua história numa linha muito especial e forte: é mulher, esposa, mãezona, boa irmã, amiga dos amigos, boa filha, parceira incondicional do marido, o grande amor de sua vida, e agora até já é arquiteta! Olha só o quê esta menina já fez?! Quero meu bebê de volta! Feliz aniversário minha bonequinha, para mim você será para todo o sempre o meu melhor presente de natal! beijos.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Doí sim...

Quando criança nunca tive o hábito de esperar papai noel, ceia de natal, festa de final de ano, comemorar aniversários, coelhinho da páscoa, nada disso fazia parte do meu universo tão desprovido de cores, era um universo com poucas alegrias, e sempre associo alegria com cores, era um mundo cinzento, de sobrevivência, lembro muito de minha mãe sempre preocupada com o dia de amanhã, com o quê ia colocar na mesa e assim por diante, um universo triste, não havia o que comemorar no pensar de minha mãe, pobre dela e pobre de mim, vivemos uma vida juntas de poucos sorrisos, abraços poucos e comedidos, beijos? lembro de poucos. Afetos travados e emoções sublimadas. E assim quando cresci, estes eventos, por assim dizer, não me eram tão importantes, eram dias como os outros, mas a medida que passei a trabalhar e conviver com pessoas diferentes do meu mundo, fui aos poucos percebendo a importância das comemorações e comecei a gostar e definitivamente introduzi na minha vida. Quando casei e tive filhos estas festas tiveram um sabor adocicado, com muitas cores, brilhos, muita gente, correria de crianças, casa iluminada, muito brilho, mesa farta e muita...felicidade! Por muitos anos assim é que foi, meus filhos tiveram tudo isto e levaram pela vida afora. Comemoram com cores! Alguns ajustes se fizeram necessários ao longo dos últimos 10 anos, pais separados...filhos divididos. E mãe e pai se desdobrando na divisão das cores! Meu filho me disse há poucos dias: "mãe não dá para a gente se dividir ao meio!" Claro que não! E quem iria querer isto seu doido! Pode deixar que a gente (seu pai e eu) daremos um jeito nisso, como sempre fizemos em tudo na vida de vocês e faremos SEMPRE! Mas que doí.. Ah, doí muito! Mas de dores em dores também se faz uma bela paleta de cores! beijos.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Tempo que vai...

Bela querida, precisei de um tempo para processar tantas emoções mexidas, remexidas, centrifugadas até não sobrar uma gotinha, novas. Estou me sentindo exaurida, mutilada de emoções; a festa do casamento da minha filha me fez deparar com pessoas que de muito não via, não convivia, algumas gostei demais de revê-las, outras ao contrário, trouxeram com seus sorrisos e abraços falsos lembranças desagradáveis, remotas e que me fizeram tanto mal. Ainda estou processando e aos poucos vou deletando, e os colocando novamente no lugar em que estavam antes, no limbo! Mas posso te afirmar que a curiosidade humana não tem limites! Mas não tem mesmo! Girava, mais ou menos assim: "Como será que ela está? Como será que vai ser: ela, ele e a atual mulher?" Tolinhos perderam tempo, nem teve nada de diferente! E por ai vai... Podre até não poder mais! Mediocridade pura! Mas por outro lado, revi pessoas adoráveis, que me querem bem e que eu os quero bem também! E isto é que fica, o resto? Bem o resto? É resto. Tirando minha emoção e sensibilidade a flor da pele, tudo correu bem, meus filhos todos juntos, a família também, amigos queridos, festa perfeita embalada pela felicidade aparente e gritante da minha filha e meu genro. E vida que segue... Minha filha está construindo sua família, aos pouquinhos, devagarinho, como tem que ser. Penso que assim sua linha vai aos poucos sendo estendida e compartilhada e que daí vai sair uma boa história não tenho dúvidas. Tempo! Que linhas tão díspares podem ser estendidas, uma pessoa que gostava muito foi embora, para o outro lado, me despedi dela com tristeza, ficou um amargor, um travo e muitas lembranças compartilhadas ficaram só comigo. Juntas, vimos nossos filhos nascerem e crescerem; hoje são homens e mulheres feitos. Vivemos bastante coisas juntas, nossas linhas se cruzaram várias vezes, desde 1978 quando aqui chegamos nessa nossa aldeia verde e aqui construímos nossas vidas e famílias. Descanse em paz querida!